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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Robocop, o Policial do Futuro

Nome original: Robocop
Ano de Lançamento: 1987
Diretor: Paul Verhoeven
Atores: Peter Weller (Officer Alex J Murphy, Robocop) Nancy Allen (Officer Anne Lewis) Dan O'Herlihy (The Old Man)

Link para assistir: http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-robocop-o-policial-do-futuro-dublado-online.html














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Atenção, todas as críticas desse blog estão recheadas de SPOILERS, não! não!..na verdade o blog É UM SPOILER filosófico dissecante, o que é ainda mais brochante do que um spoiler comum, cênico. A sinopse aqui serve pra relembrar a trama aos esquecidos e fazer desistir de ler quem ainda não assistiu.
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Sinopse: Na Detroit do futuro o crime e a violência tomam conta da cidade. O oficial Alex J. Murphy, ferido mortalmente em trabalho, retornará como um ciborgue praticamente indestrutível, uma arma da polícia contra os criminosos. Mas lembranças do seu passado acabarão atormentando suas funções.




                  Antes de mais nada, assistam de novo. O antigo de 1987 é um clássico de ficção e eu diria, de drama. O policial humano-máquina e descartável, com ares de inadequação e desconcerto que me lembrou inclusive, os replicantes do também clássico Blade Runner. Robocop é um projeto maligno resultado da concessão da segurança pública a uma empresa. Ele é o policial com muito poder e pouco coração, (a princípio) feito para prevalecer o seu lado máquina já que sua memória foi apagada, mas ele tem sonhos! Hmm... segundo o CEO da empresa ele é um produto e uma propriedade da empresa. Ele é um projeto fracassado de desumanidade conveniente (lembra um pouco o personagem da última crítica deste blog, não?)
            Seguindo minha metodologia de dar valor a cenas aparentemente sem grandes intenções, persigo a interpretação.  Há uma cena de particular valor em que Robocop logo depois de efetuar sua primeira missão, gira a arma tal como nos filmes de faroeste. Esta é uma passagem repetida algumas vezes durante o filme. O que sabemos do faroeste? Foi uma época de transgressão à lei, ou se preferirem manter a qualidade simbólica de nosso discurso: uma terra sem lei. Totalmente em contraste com a pretensa lei absoluta projetada e moldada na figura no policial do futuro, uma pretensão que foi antes forjada no seio de uma sociedade insegura do ponto de vista social, com sede de poder. “nada é de graça, é uma sociedade sem garantias... entende?” Fala do cabeludo logo após a ameaça de greve dos policiais aos 75 mins de filme aproximadamente.
              Esse contraste não é de graça também, é a chamada Sombra, pela via Junguiana. O lado sombrio contido da integração de opostos e que produz uma terceira via mista, insatisfatória a ambas as correntes num primeiro momento. Aqui no filme, a sombra é a via de superação de Robocop da sua condição de máquina para ser humano novamente. Ser o responsável pela lei numa terra sem lei o fez recuperar sua humanidade, ainda que aos poucos e às duras penas que a vida lhe proporciona.. a metáfora ainda persiste: nada é de graça. Ao ter carta branca para tomar os rumos das decisões políticas que afetam a todos, a empresa escolheu o óbvio: proteger a si mesma. Quando Robocop deu sinais de humanidade as quais dobravam sua pretensa lógica fria, ele passou a ser uma ameaça e a empresa tentou destruí-lo. A humanidade dialetiza os problemas. A lógica fria não é campo da sensibilidade ética.
             Também a lógica fria aponta para um sistema falho: não é sustentável a lógica de querer tratar o crime com mais repressão e mais poder de fogo. Isso porque a criminalidade é sintoma e não causa, tal como as histerias de conversão, se eliminadas em sua forma de manifestação, o equilíbrio, que é implacável, faz manifestar um outro sintoma no mesmo corpo em substituição à remoção do primeiro. Disso é que resulta os entraves e intempéries que se colocam no caminho de um policial com demasiado poder de fogo (leia-se, apenas puro e simples poder) que se pretendeu fazer dele um Messias encomendado pela sociedade que esperava e ao mesmo tempo precisava de uma encarnação de um sujeito justo e todo poderoso para garantir a aplicação da lei, que supostamente isso nos traria o fim da impunidade, da insegurança e da criminalidade. Robocop encarna Jesus Cristo do ocidente, ou ainda mais precisamente, o Cristo Judeu, ainda esperado para vir sobre a terra, uma vez que o Jesus do Novo Testamento compartilha apenas os valores morais de sacerdote e governa pelo exemplo, em contraste com o esperado Cristo da crença judia que também incorpora o poder político que dobraria joelhos e governaria povos com a aplicação de suas leis pela força política. 
               Novamente, isso pode parecer demasiado "viagem" ao interpretar, mas tão logo você perceba os simbolismos que aparecem, fica mais claro enxergar. Notemos os simbolismos já presentes: em uma das cenas finais, Robocop aparece andando sobre uma superfície plana encharcada aludindo ao andar sobre as águas de Jesus, mas dessa vez pronto para matar (exercer o poder da forma mais livre possível) o seu antagonista criminoso. A redenção proporcionada por Jesus na figura do Robocop é deslocada, de forma que para o seu oponente na água ele vem pra trazer o julgamento, enquanto que a redenção esperada é trazida para o povo que o esperou, a saber, a sociedade futurista de Detroit. Entretanto, a redenção é metafórica novamente pois se Robocop surgiu da necessidade de segurança e proteção desesperada, as vias que levarão o destino que o convocou serão dirigidas por Thanatos, a morte, embora o tenham convocado almejando Eros (vida)

Robocop anda sobre as águas para trazer o julgamento de sua arma ao criminoso. Em Mateus 10:34 Jesus diz: "Não penseis que vim trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas espada"

             O demasiado poder de Robocop não tem lugar e a existência dessa ameaça que sobrepõe a tudo e todos é caçada, num outro simbolismo claro à figura do Messias, é o fato de que ele morre e volta a vida ciberneticamente.
Paul Verhoeven, no Blu-ray, também assume que: "Quando Cristo voltar, ele será uma espécie de "figura de Che Guevara", e provavelmente instruiria seus seguidores a pegar em armas, assim como Robocop ". Assim como Robocop!
               À impotência humana, uma resolução. O simbolismo da espada proferida por Jesus em Mateus 10:34, ricocheteada em arma de fogo, em uma projeção num momento de Robocop, nos mostra um símbolo fálico. Símbolo clássico de poder sob o qual foram concatenados vários conceitos psicanalíticos de Freud. Não somente por ele ter uma arma de fogo, pois se assim fosse qualquer arma de fogo em qualquer filme poderia adquirir caráter fálico e não é o caso, mas porque se juntam muitos simbolismos em simultâneo, que se complexificam e se completam: Robocop como um salvador, andando sobre as águas, trazendo justiça final, sendo perseguido pelo próprio povo e anseio (necessidade) que o trouxe, isso sem contar o fato de que ele encarna o Jesus fálico e não o Jesus sacerdote moral, ele encarna o Cristo que PODE. A violência é apenas expressão direta do exercer poder.

Em ROMANOS, 13:1-7 a passagem versa sobre o reconhecimento de Deus sobre a lei terrena:
  "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejas sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.

             Aqui podemos encarar o tal anseio pela justiça na forma de lei e o surgimento do Messias Robocop como figuras de uma mesma moeda, uma insurgência espontânea arquetípica de uma necessidade. O reconhecimento da justiça humana pelo Mito do Criador, ou mesmo o inverso, o reconhecimento da divindade como integrante da lei humana, não importa, quaisquer símbolos e/ou funções estruturantes podem ser bons se estruturarem a consciência ou maus se fixados e estiverem na Sombra, Robocop tem a questão do Messias quando se nota que ele vem trazer justiça e obtém nela a justiça de si mesmo ao se deparar com a Sombra não dele, mas da sociedade que o erigiu.


sábado, 3 de janeiro de 2015

RAMBO I e II

Ficha do filme:

Nome original: First Blood
Ano de Lançamento: 1982
Diretor: Ted Kotcheff
Atores: Sylvester Stallone (John Rambo) Richard Creena (Coronel Trautman) Brian Dennehy (Policial Teasle)

link para assistir online, RAMBO 1: http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-rambo-programado-para-matar-dublado-online.html 

RAMBO 2: http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-rambo-2-a-missao-dublado-online.html






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Atenção, todas as críticas desse blog estão recheadas de SPOILERS, não! não!..na verdade o blog É UM SPOILER filosófico dissecante, o que é ainda mais brochante do que um spoiler comum, cênico. A sinopse aqui serve pra relembrar a trama aos esquecidos e fazer desistir de ler quem ainda não assistiu.
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Sinopse:
John Rambo é um veterano de guerra atormentado pelas lembranças do Vietnã. Numa viagem à procura de um colega do exército, passa por uma cidadezinha cujo xerife o toma por vagabundo sem motivo, e acaba detido. Lá, a agressividade dos policiais traz à tona todos os seus traumas, mas também toda sua habilidade de guerra. Rambo foge, então, para uma floresta vizinha, e dá início a uma fuga violenta.

Obs: Não pulem os vídeos, são cenas especiais escolhidas por mim para dar tom à crítica. ;)



 Essa crítica é a alma desse blog. A intenção máxima desse meio. Rambo é a interlocução perfeita de muito do que se busca tratar aqui. É uma crítica sobre algumas intenções inconscientes do autor. O que ele possivelmente disse sem querer dizer, assim como todas as outras análises. Ao mesmo tempo que posso olhar pra esse filme e falar de processo de criação arquetípico de uma obra de arte, posso falar de ser humano, existência e sentido.
 Rambo é um veterano da Guerra do Vietnã com sequelas quase que irreversíveis, ele sofre com flashbacks de tortura, teve amigos mortos e continua vendo morrer todos aqueles de que se aproxima, como a moça oriental por quem tinha se afeiçoado e decidido levar para os EUA para começar uma vida nova. O Rambo assim como o Capitão Nascimento é um tiro que saiu pela culatra e acabou matando simbolicamente o personagem ao ter a sua força louvada ao invés do seu poder de evidenciação das inconsistências que o cerca.  Essa história contempla mais do que a demonstração de violência e belas cenas de ação demonstradas na tela. Rambo foi criado para matar, ele não fala bem, não se comunica suficientemente, não interage para além de suas necessidades imediatas e suas relações sociais, amizades e família foram destruídos por um propósito político. Rambo é um desgraçado, mas não foi de graça. Para os meus antigos olhos de criança, quando assisti pela primeira vez era o melhor filme de ação. Com o olhar de psicólogo, é um belo filme de drama.


Em Rambo II acontece um rápido e bonitinho interesse entre John Rambo e uma
        moça que queria voltar com ele para os EUA começar uma vida nova...


...logo após combinarem de irem aos EUA, ela morre alvejada pela milícia local


          Entretanto essa visão é do e para o público, para a política que o criou ele é uma arma estritamente funcional que ao contrário do Capitão América ou do Dr. Manhattan, Rambo não é uma propaganda, ele é uma vergonha anônima necessária. Tal como os métodos invasivos sujos da CIA ou do FBI ele é o máximo da força ainda humana (em contraste com os super-heróis de força e habilidades sobre-humanas) que se impõe aos opositores da política imperialista norte-americana, ao mesmo tempo em que tenta desesperadamente gritar pela própria humanidade debaixo desse processo.  Confira o diálogo do xerife perseguidor de Rambo e o Coronel Trautman, responsável por seu treinamento militar:



      Bem, para um desatento esse depoimento preciso de capacidades bélicas pode ser motivo de um burro orgulho ianque (confesso que pode ser engraçada pra caralho também, do alto do meu senso de humor bizarro) mas cogitar que essa condição de vida seria compatível com uma humanidade saudável seria demais. Pensar: como uma pessoa criada assim poderia ser feliz? Um ser sem qualquer habilidade de negociação, socialização e que aprendeu (porque foi-lhe ensinado) a se relacionar matando, sem quaisquer vínculos sociais possíveis de se manter e bode expiatório de tudo que fez. Rambo é um sintoma social, lhe foram prometidos grandes glórias e honras patrióticas caso fosse bem sucedido em uma política que impele a reagir medindo forças e comparando poderes. Não é de se surpreender que a abordagem policial desumana e preconceituosa tenha se desdobrado em conflito que gerou o mote de todo o primeiro filme, a saber, o confronto entre Rambo contra os policiais de um distrito interiorano dos EUA. Notaram algo? O primeiro filme é uma guerra de americanos contra americanos. Contra si mesmos! Isso deveria nos dizer algo. 



Num cenário hipotético perfeitamente verossímil, ouço alguém dizendo em uma sessão de Rambo no cine clássicos Cinemark, ao ver esta cena: “É... parece que o Rambo não era tão machão assim”. Será que alguém teria coragem de dizer isso ao personagem fictício? É só uma provocação, é claro que não, a covardia em todas as esferas se caracteriza por estar em condição de poder e se vangloriar disso.

“Tive uma guerra no Vietnã e quando voltei para a América, havia outra guerra, uma contra os soldados, uma que não se pode ganhar” (John Rambo)

            Rambo é um cara confuso em relação ao militarismo e seu uso político, sem instrução e vulnerável, ele não consegue falar com propriedade da opressão, (e é por isso que o Rambo quase não fala, e não porque o ator é ruim, como afirmam uns por aí) mas sente e é produto dela. Interessante notar o momento áureo de revelação da política por trás da missão em Rambo II:

                Rambo assim como muitos militares e simpatizantes do militarismo atualmente, acreditam em uma mentira.  É disso que se trata a obra política de David Morrell, o autor do livro First Blood que inspirou o personagem Rambo, o supersoldado descartável, perturbado e sequelado que ao final do livro comete suicídio.
                Metaforicamente, o suicídio ou o desabamento final de Rambo no filme atestam a mentira ideológica de valores que supostamente se complementam, como militarismo e patriotismo, condições que servem única e exclusivamente para endossar protecionismo, xenofobia, intolerância e preconceito em macroescala, de um povo ou um país para outro. Não que o uso dessas categorias seja acidental, esses valores são cultivados como intenção de dominância, dominância sobre sua população primeiro pra depois dominar outras nações na conveniente e paralela associação ideológica de Doutrina Monroe e Destino Manifesto. Através da unidade desses valores se mantém o American Way of Life, com suas consequências demonstradas tanto pela quantidade de mortos dos dois lados na guerra quanto pelo "vitorioso" Rambo que sobra pra contar a história.