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domingo, 28 de dezembro de 2014

Se7en, os Sete Crimes Capitais

Ficha do filme


Nome original: Se7en
Ano de Lançamento: 1995
Diretor: David Fincher
Atores: Morgan Freeman, Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey


Link para assistir online: http://www.filmesonlinegratis.net/seven-os-sete-crimes-capitais.html
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Atenção, todas as críticas desse blog estão recheadas de SPOILERS, não! não!..na verdade o blog É UM SPOILER filosófico dissecante, o que é ainda mais brochante do que um spoiler comum, cênico. A sinopse aqui serve pra relembrar a trama aos esquecidos e fazer desistir de ler quem ainda não assistiu.
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Sinopse: Somerset (Morgan Freeman) é um detetive cansado de seu ofício a uma semana de se aposentar enquanto que Mills (Brad Pitt) é um impulsivo detetive transferido para a cidade ávido por mostrar suas capacidades. Ambos acabam se deparando com o bizarro caso de John Doe (Kevin Spacey) um assassino em série que mata as vítimas punindo-as com o pecado correspondente de suas vidas, um dos sete pecados capitais. 



                 Um clássico genial na história do gênero policial, inigualável no tocante ao método que foi escolhido para se passar esta mensagem em específico. Não, o filme não é sobre formas divertidas e criativas de se matar, ou ainda, uma mais aprofundada porém ainda insuficiente condenação moral de um assassino louco sobre os pecados da sociedade. Esse filme meus amigos, traz uma crítica deveras sutil sobre a dualidade humana, rejeitando o maniqueísmo e situando os podres da sociedade não no outro, e menos ainda ao nosso lado, mas em nossa interioridade mais vívida de modo nauseante. Um nem tão aterrorizante por não ser tão direto, porém ousado apontamento de que o bem e o mal talvez não existam separados e não sejam tão distantes de nós assim.
                 Em um momento aparentemente despretensioso do filme, os agentes Somerset e Mills estão em um balcão de bar falando sobre esse caso único em suas carreiras, um diálogo precisamente inspirado de nosso roteirista que dá todo o tom crítico universalizante sem ser banal, que junto à cena do tríplice diálogo com o assassino na parte de trás da viatura confere toda a estrutura pensante que eleva o filme do patamar de "um filme com mortes incríveis", a "um soco filosófico no estômago".

Mills: Estamos falando de pessoas que são loucas. (se referindo ao assassino John Doe)



Somerset: Errado Mills, estamos falando do dia-a-dia!

                Mills ao discutir sobre o assassino que persegue, incorpora o discurso do mal como excepcional, como contaminante da ordem social ao mesmo tempo que se coloca como alguém qualificado para extirpar o mal do mundo, também se vê um homem de virtudes suficientes para tal tarefa. (e isso é demonstrado em sua personalidade, ao longo do filme). Ao caracterizar o mal como algo alheio e distante do ser humano, ele enxerga o assassino moralista como algo atípico. A sua fala final com Somerset de pseudo-esperança na sociedade não está pautada em entender o que são e de onde vem os traços de ferocidade humana, mas em poder mudá-los a despeito de seu significado, se colocando como justo e sabedor do bom e do correto.

O problema de Mills não foi ter sido legislador e executor da sentença, mas o erro em procurar as respostas fora de si durante toda a jornada, descaracterizando a figura do mal para que pudesse manter seu ideal moral.

                  Por outro lado, a fala de Somerset caminha no sentido oposto, ao assimilar os assassinatos de cunho simbolicamente morais à conduta humana propriamente dita, Somerset assume que o assassino não é nenhum excepcional e portanto, é um trivial que aproxima o humano de sua humanidade e confere a essa humanidade a dupla face: a trivial e a excepcional em indissociável conjunto. O homem como capaz de atrocidades diárias pautado nessa moralidade cotidiana de contenção de excessos, uma marca repressiva cunhada de recalque na Psicanálise. É importante dizer que Somerset, talvez por algum princípio religioso ou mesmo tradicionalista, é algo condescendente e identificado com os valores morais perpetrados por nosso assassino John Doe, isso porque embora ele perceba quão próximo o assassino está de nós, (e portanto reconhece a brutalidade apenas manifestada  no assassino sem que este seja excêntrico) ele assume a condescendência moral ao considerar justificada a realidade psíquica que atribui a causa mortis aos pecados. Isso pode ser notado ao analisar a conduta maniqueísta de Somerset, muito embora ele trate de aproximar o pecado como parte da humanidade, (ao contrário de Mills que trata isso como um desvio que pode ser extirpado) ele também mostra perda total de fé no ser humano ao denotar não entender porque isso acontece. A necessidade de explicar a dualidade humana e a capacidade do ser humano de fazer e praticar o mal não lhe basta só por existir. Tem de haver uma razão racional, lhe tornaria mais fácil de digerir.
                       É nesse ponto que o personagem de Somerset também perde o seu porto seguro, isso porque ao invés de abster-se de julgamento moral, ele dá murros em ponta de faca tentando entender,  (no fundo já sente os efeitos em si e não aceita o fenômeno da castração primária a que todo ser humano passa) a capacidade humana de praticar esse mal. Ele está cercado por concepções de certo e errado, e os 7 pecados capitais assim como na bíblia não são as únicas depravações, são a porta de entrada de uma variedade imunda de tentações atípicas que perturbam o ser humano.


                     Ainda assim, Somerset representa um pensamento mais filosófico e autoimplicado do que Mills, que representa o senso comum da sociedade e se ocupa insistentemente e de modo cego em apontar no outro o mal que não enxerga em si, que trata de afastar esse mal pra que isso não escadalize a si próprio, que olha o mal como algo alheio ao ser humano e portanto, distante. Somerset entende esses pontos, mas não entende porque tem que ser assim, (é assim porque o mal existe somente em religião, pra ciência não existe mal nem bem, mas apenas desejos inconscientes) não se conforma, e com isso quer a aposentadoria para não lidar mais com a irracionalidade como a de um caso que ele mesmo narra a seu chefe: um homem que ao passear com seus cachorros na rua é assaltado e tem os olhos furados por motivo nenhum além do sadismo de um assaltante, que já detinha o dinheiro. O que aflige Somerset não é mais a violência, mas o fato de isso ser gratuito e sem qualquer explicação racional, não ter a posse dessa explicação depois de tanto tempo de trabalho é que o faz não querer mais nada disso, de fato, Somerset não quer mais a humanidade. Ele concorda com John Doe.













3 comentários:

  1. Texto sensacional, não é a toa que é o meu preferido do Fincher! Outro filme que possui uma premissa interessante é Apocalypse Now do Coppola (adaptação contemporânea de um classíco da literatura inglesa do século 19, "Coração das Trevas"), embora este foque mais na selvageria e no barbarismo contido não apenas no individuo, mas na civilização humana como um todo, ao colocar frente a frente o homem moderno e o barbarismo quase paleolítico que, mesmo separados por milênio de processo civilizatório, continuam bem próximos e mútuos. Continue com esse trabalho daora! Abrasss

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    1. Muito bem lembrado Matheus! Você traçou paralelos interessantes entre a tônica de Seven e Apocalypse Now, mesmo sendo dois filmes com estéticas completamente diferentes! Não é demais quando isso acontece??! Obrigado pelas palavras, muito bom encontrar você por aqui, abraço!

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    2. Fantastico mesmo hahahahah. Continue produzindo broder!!! Abrassssssss

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